Por Rubens Herbst, do Blog Orelhada
Existe um ditado popular invertido que diz: "De onde menos se espera, daí é que não sai nada mesmo". Certo, mas às vezes o inesperado consegue nos pegar de jeito e precisamos dar razão ao anexim oficial. Por exemplo, quem conseguiria imaginar que o Cracker lançaria o melhor disco de rock de 2009 até aqui? Eu que não. Sempre acompanhei a banda de longe, se movendo sem muito alarde desde 1990, lançando uma dúzia de discos apenas bacanas - nos quais exercita o compêndio de rock alternativo, alt-country, folk e blues - e às vezes até emplacando uns mini-hits, como Eurotrash Girl e Low.
Deveria continuar sendo assim, mas aí o Cracker me aparece com este Sunrise in the Land of Milk and Honey (lançado em maio), jogando todos os meus conceitos sobre o grupo por terra. Onde o quarteto californiano escondia tanta inspiração? E por que ela foi aparecer, exuberante, só agora? Dúvidas, dúvidas. No final, resta ouvir, embasbacado, um discaço que não perde o foco e o pique em momento algum.
E o pior (ou melhor) disso é que Sunrise in the Land of Milk and Honey não se mete a ser inovador, experimental, aglutinador de estilos, moderno nem a promover revivals. Nada dessas coisas que elegeram Dear Science, do TV on the Radio, o melhor disco de 2008. Não, o Cracker simplesmente faz rock'n'roll. Duro, reto, cru, melódico, com algumas baladas no meio. Pode ser pouco pra quem busca algo além da mesmice, mas é o suficiente (quando bem feito, claro) pra quem já cansou de tanto "revolucionário de araque".
A coisa já começa intensa com Yalla Yalla (Let's Go), que me lembra um Neil Young punk. Mas é a faixa seguinte, Show Me How These Things Work, que começa o festival de pauladas, sempre junto com um refrão grudento. O candidato a hit Turn on Turn in Drop out with Me dá um tempo na distorção com uma melodia country de fazer Jason e Freddy chorarem abraçados. Depois, o Cracker mostra de novo que andou ouvindo muito Buzzcocks pra, em seguida, voltar à roça com o purismo de Friends. Pulemos pra Hey Bret (You Know what Time it is), a música que os Stones dariam Ron Wood pra compor hoje. O disco termina com a faixa-título, mais uma bolada de guitarras ardidas e melodia apurada.
Enfim, quantos discos hoje conseguem ser bons do começo ao fim? Poucos, e o Cracker, acreditem, conseguiu o feito. Óbvio que tudo isso é opinião minha. Discordem o quanto quiserem, mas deem um jeito de ouvir Sunrise in the Land of Milk and Honey. Será um favor a vocês mesmos.
Comentário: Pra quem quer fugir do ieieieie tradicional, um bom állbum!!
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